Flores de Inverno e Ano Novo

O Inverno facilmente pode ser associado a uma época fria e cinzenta, húmida e escura. Mas se atentarmos bem aos vários sinais que exibe, podemos concluir sensações contrárias.

Algumas flores chamam-nos a atenção pela sua particular e distintiva morfologia e até podemos ser levados a pensar que se enganaram e que ‘o tempo anda todo baralhado’.

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Aristolochia baetica L., Erva-cavalinha. Cumeada, Tavira

Estas flores estão cá de propósito, como trombetas avisando do Solstício de Inverno, o do João Evangelista. Aquele a partir do qual os dias começam lentamente a aumentar de duração, como que a marcar a reconquista da Luz sobre as Trevas com o Nascimento do Grande Iniciado!

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Chamaemelum fuscatum (Brot.) Vasc. ; Margaça-de-inverno. Perímetro Florestal da 
Conceição de Tavira

O Sol recupera o seu espaço acima do horizonte no que é saudado pelas ‘belas-noites’ desde os terrenos que amparam a Igreja de S. Paulo, até lá bem em cima no Minho, passando por Estragamantens.

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Calendula arvensis L. ; Erva-vaqueira, bela-noite . Asseca, Tavira

Daqui a pouco o chão vai cobrir-se com uma manta de santas-noites, azedas ou erva-pata como lhe queiram chamar.

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Oxalis pes-caprae L. ; Azeda, santas-noites . Santo Estevão, Tavira

Esta não é das nossas lusas e autóctones. Veio acidentalmente importada da África do Sul e rapidamente se tornou uma infestante. Para quem, ao contrário de mim, não tem pruridos em relação a algumas espécies exóticas, … fica uma bela imagem. Para mim, nem tanto. Preferia um amarelo mais saturado e portanto mais intenso. Mais nosso! Também vai florir mais uns meses, e é sem dúvida uma bela flor de Inverno.

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Calendula arvensis L. ; Erva-vaqueira, bela-noite . Fonte Salgada, Tavira

O Alecrim igualmente. Vai florescer mais intensamente no próximo Equinócio, mas aí está ele já, a recordar a festa do outro Solstício em que tradicionalmente se queimava nas fogueiras do João ‘Baptizador’. Como se a vitória sobre o Mal tivesse cheiro e fosse a Alecrim.

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Rosmarinus officinalis L.: Alecrim. Eirões, Tavira

Por agora aconselha-se vivamente o uso e abuso desta  planta, prenhe de essências que a fazem rainha de utilizações medicinais e outras, no tempero das carnes. Assadas no forno ou grelhadas, ou antes disso em marinadas. E como fica bem a emprestar o seu aroma ao azeite com que temperaremos as saladas ou em que mergulharemos os queijos quando secos…

Se o quisermos encontrar, não será nas encostas da torga. É nas viradas a Sul que ele gosta de crescer, às vezes em são convívio com a rainha Esteva.

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Narcissus papyraceus Ker Gawl. ; Narciso-de-inverno. Quatro-estradas, Tavira

Além da minha mãe, há vários amigos e uma tia muito especial que nasceram, em anos de diferentes décadas, por esta altura do ano. Para todos estes, a Obra criou uma flor com que foram ofertados. Apreciando de mente vazia a delicadeza destas flores sob as costumeiras gotas do orvalho das umbrias, em chegando a casa rapidamente descartamos dela quaisquer conotações etimológicas, mitológicas ou psicológicas.

Pelas bandas do javali flores há. Pelas da conquilha também algumas se descobrem timidamente, como se não fossem ex-libris desse hermafroditismo vegetal simbiótico dos princípios feminino e masculino… simbolizando também e mais uma vez os entendimentos necessários a grandes e renovados anos .

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Cakile maritima Scop. ; Eruca-marítima. Barril, Tavira

Bem hajam todas as mães, flores destes mundos.

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