A vagem de Alfarrobeira foi uma flor – feminina quase sempre, ou se hermafrodita, o seu gineceu – no Outono dos seus primeiros dias. Está agora, no pino do Verão, crescida, madura.
Como todas as vagens de tantas leguminosas, protege as sementes que guardam tantos segredos. Usa 90% do seu peso em forma de polpa, para proteger os outros 10%.
A maior parte dessa polpa vai ter como destino a alimentação animal e muito pouca é utilizada na indústria alimentar e na dos xaropes. Também há, como se sabe, quem goste de roer a vagem e descobrir-lhe aquele sabor castanho tão característico.
Os 10% em segredos de semente, valem 60% do preço do preço da vagem. Entre esses segredos contam-se a farinha de gérmen e a goma do endosperma que é o mais nobre deles.
Uma sementinha é a coisa mais extraordinária que há nas plantas … a seguir à flor que esteve na sua origem, embora a flor brote da planta originada pela semente…! Tem uma casquinha (tegumento, cutícula, episperma) que protege o seu interior cujo não é mais que uma plantinha bébé (embrião, gérmen) e a paparoca (endosperma, albúmen) necessária aos seus primeiros tempos de existência germinativa.
As células do endosperma são constituídas por uma substância que recebe o nome de ‘goma de semente de alfarroba’ (LBG do inglês locust bean gum), classificado como E-410, e nem me atrevo a dizer o seu nome verdadeiro. Há quem diga que é a substância campeã mundial no que toca a espessantes, estabilizantes, emulsionantes e gelificantes. De ampla utilização na indústria alimentar também tem utilidade nas indústrias têxtil, mineira, do papel, farmacêutica, química, do couro, cosmética e ainda mais…
Do gérmen produz-se uma farinha que há décadas é conhecida como um dos produtos proteicos mais completos, a par da farinha de soja. Está carregadinha de Potássio, Fósforo, e Vitaminas PP e B2.
Do tegumento saem por artes mágicas dos processos científico-analíticos, substâncias corantes e gelatinizantes, extractos tanínicos, tanino puro e ainda mais,…
Um mundo para descobrir nestes simpáticos e verdadeiros quilates, que teimamos em vender para lá das fronteiras, em bruto ou quase sem valor acrescentado.
Pois é!!!
(se encontrarem, consultem “Sistemas Agrários Tradicionais no Algarve”, DRAALG, 2000)