Água, Ar, …

Talvez haja pouco, mais exotérico que a praia em verão quente e maré-baixa ao nascer-do-sol ou lá perto! No Sul, claro! Que no Norte por lá estão os bosques de Carvalho em serros de granito e noites de Lua Cheia, para meças.

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Não haverá espírito nem corpo que não apazigue num passeio a ouvir as conversas do mar com a terra. A falar com as conchas, umas delas vazias de corpos vivos outras preenchidas de vida nas suas helicóides ‘fibonaccianas’.

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O Verão não é só calor e agitação e noites quentes e banhos de multidão e filas para quase tudo. É a época mais confortável para estabelecer um contacto profundo com os 4 elementos, e a praia um dos altares que melhor os reúne.

A começar pela Água, essa fantástica substância que significa vida e fertilidade, capaz das maiores amenidades mas também das maiores forças destruidoras. Onde surgiu a Vida neste planeta que é azul por responsabilidade sua. Em que mergulhamos sentindo-a em toda a área de pele como que numa purificação que mais não é que a lavagem do espírito…

Antes do mergulho, o Ar penetrou-nos os pulmões num sopro de vida que liberta a energia necessária ao movimento, à construção, e à renovação.

À saída, os grãos de areia vão insinuar-se entre os dedos e colar-se à pele. A areia são enormes pedaços de pó que nos lembram que da Terra viemos e a ela voltaremos assim que se complete esta fugaz passagem.

Ao calor do Fogo do Sol acabaremos o tratamento que nos transformou, nem que por breves instantes, em novas e frescas pessoas, como se tivéssemos voltado do início ao presente num momento de intimidade com o Universo.

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A água escorre na areia e desenha-lhe rios e sorrisos que brilham ao Sol. Sobre os grãos húmidos e compactados pousam por vezes penas e plumas de aves que nem sempre deixam pegadas. A maior parte dos seus caminhos são pelo ar acima das nossas cabeças, às vezes por baixo dos pensamentos. O que não voa fica na areia em histórias caladas nas conchas dos moluscos, nos exosqueletos de crustáceos e equinodermes, nos ovos e ‘ossos’ de choco, nas estranhas formas das areias excretadas por alguns poliquetas, nos cacos de alcatruzes ou ânforas de outros tempos. Tudo isso naquela faixa de areia que em todas as praias presta culto à Lua.

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Serra da Lua há uma, mas todas as praias são da Lua. É ela que as manda taparem-se ou descobrirem-se com a manta do oceano. Num ritmo diferente da rigidez solar da noite e do dia, como que a emprestar imaginação e criatividade à sucessão da influência astral.

 

É a baixa-mar que se encosta ao início do dia, que tem mais encanto. Tudo está quase intocado ainda. Parece que cada um que aí vai é o primeiro e único a pisar esta pedaço de terra, a respirar aquele ar fresco e iodado, a mergulhar em todos os mares e oceanos e talvez até a ver o Sol nesse dia.

…mas não importa de facto ser o único ou o primeiro.

Não.

Nada.

Importa mesmo a plenitude que se pode desfrutar.

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