Há quem ache que as movimentações das populações de flamingos são algo erráticas e por isso não consiga classificar esta fantástica espécie como invernante ou residente ou nidificante. De facto, normalmente não nidifica em Portugal, mas isso já ocorreu no Algarve.
Phoenicopterus roseus; Flamingo. Salinas de Santa Luzia.
É grande, podendo atingir o metro e meio de altura e os 12 kg de peso. Quando voa (e que bem que voa!!) mostra todos os seus 170 cm de envergadura. Mas isso são números que interessam pouco. O que interessa mesmo são outras coisas menos mensuráveis e palpáveis..
Salinas da Ribeira do Almargem.
A serenidade que transmitem quando os observamos. A princípio afastam-se tranquilamente à nossa aproximação. Porque ficamos quietos percebem facilmente que não somos ameaça e retomam as suas tarefas, que vão desde o despreocupado e elegante passeio, até à activa prática da alimentação por meio de eficaz filtragem de água onde abundam os seus pitéus preferidos, e à sesta retemperante feita numa pata só a lembrar musicalidades de amenas latitudes.
[De repente mas devagar, parecem uma bola espetada num pau no meio da água.. como pinos de um qualquer jogo que se faz parado no pino do dia.]
Sesta nas 4 Águas.
[Passeiam docemente, às vezes aos pares, como enamorados entre si e das águas das suas vidas.]
Namoro em Santa Luzia.
Imaturo aguardando activamente nova plumagem.
Nascem com o bico direito e de cor cinzenta para mais tarde exibirem um bico recurvado feito de duas maxilas das quais a móvel é a superior, e uma cor característica de inconfundível rosa nas suas grandes coberturas alares superiores e inferiores bem delimitadas pelo negro das rémiges.
Há quem diga, e eu acredito, que a cor rosa é devida aos pigmentos chamados de carotenoides e que estão presentes nos pequenos crustáceos de que se alimentam, e que lhes chegam ao papo e posteriormente ao estômago, após sucção e filtragem no seu ‘aparelho bucal’. Dizem também, e eu sempre acreditei no enorme La Fuente, que, juntamente com outras duas belas criaturas nossas vizinhas (o pato-trombeteiro e o colhereiro) o bico dos flamingos é “um dos mais perfeitos crivos do mundo das aves”.
Embora seja possível observar flamingos isolados, isso é muito pouco frequente. Têm um sentido comunitário e de grupo notável, e reagem em bloco no susto na sesta no voo no ‘refeiçoar’. Até no namorar o espírito de grupo está presente, com os machos exibindo em grupo às fêmeas a sua masculinidade e determinação, quais ‘all-blacks’ na sua impactante ‘haka’.
Céus de Tavira.
Os antigos egípcios tinham uma especial reverência pelos flamingos, entendendo que seriam uma personificação do Sol deus. Não estariam nada enganados. Afinal (praticamente) toda a matéria viva tem origem no Sol. Como cada um de nós, aliás. Que lentamente meandramos no sapal, ou descrevemos perpendiculares nas salinas de Tavira e Santa Luzia. Não é o mesmo com e sem flamingos.
São parte dos genes desta terra que não cansa, pelo fértil casamento milenar que tem com a água.