Maçaricos e colegas – Limícolas II

Já por aqui e noutros lados se disse que do latim limu =(lodo) e colere (=viver) se fez a palavra limícola, que designa um conjunto de seres vivos que se alimenta no lodo, coisa que não falta no sapal e no fundo de algumas salinas.

Também já por aqui se alvitrou que, não existindo o interesse em as conhecer pelo nome, distinguir espécies umas das outras, ou registar as diferenças nas plumagens de Verão e Inverno, bem nos podemos deixar emprenhar pela sensação de sossego e placidez que nos transmitem, nas quietudes das águas iluminadas pelos primeiros ou últimos raios do sol de cada glorioso dia dos muitos que o Universo nos oferece.

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Bando de Maçaricos-de-bico-direito. Tavira

Rôlas-do-mar, Tarambolas-cinzentas, Narcejas e Combatentes, são algumas das limícolas que por aí fazem muito tranquilas a sua vidinha. Borrelhos e Pilritos, Maçaricos vários, Alfaiates, Pernas-longas e Pernas-vermelhas e Pernas-verdes também. De algumas já se falou por aqui com a devida vénia. De maçaricos ainda não.

Há para vários tamanhos: desde o Maçarico-das-rochas confortável em menos de um palmo, aos Maçaricos galego e real orgulhosos da sua corpulência e do tamanho do seu bico convenientemente curvado para baixo.

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Maçarico-galego; Numenius phaeopus. (comp.37-45cm/env.78-88cm)

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Maçarico-real; Numenius arquata. (48-57cm./89-106cm.)

O Maçarico-das-rochas e a Rola-do-mar moram cá o ano todo, e deve ser porque gostam tanto disto como eu. Também  já vi uma Tarambola-cinzenta apaixonar-se pelas 4 Águas e deixar-se de viagens cansativas, ficando por cá todo o santo ano.

O Maçarico-das-rochas é esquivo mas admite uma distância ao observador relativamente pequena, ao contrário da Tarambola que gosta de espaço de segurança entre nós e ela! Completamente descarada é a Rola-do-mar. Aproxima-se despreocupada, qual pardalito a debicar as migalhas nas nossas mesas de algumas esplanadas. Tal como a Tarambola, outros maçaricos e nós todos, ‘veste-se’ de maneira diferente no Inverno e no Verão. Prefiro-lhes as roupagens do estio, …tal como a mim próprio!

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Maçarico-das-rochas; Actitis hypoleucos. (18-20cm./32-35cm.)

 

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Rola-do-mar; Arenaria interpres. (21-24cm./43-49cm.) Plumagem de Verão
em cima; plumagem de Inverno em baixo.

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Tarambola-cinzenta; Pluvialis squatarola. 26-29cm./56-634cm.) Plumagem de 
Inverno em cima; plumagem de Verão em baixo.

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Depois, há os que têm compromissos familiares ( reprodutivos, mesmo!) noutras lonjuras mas que aqui passam obrigatoriamente os invernos dos seus contentamentos que nós também sabemos serem amenos e tranquilos quase sempre.

Alguns, como o Combatente por exemplo, mas ainda na ‘fase pacífica’ fazem um desvio a caminho da Europa Central quando vêm de África, descansando aqui por Tavira.

Para retemperar forças antes da próxima época reprodutiva, e se quedarem ao abrigo de rigores invernais mais setentrionais, a Narceja-comum também escolhe os sapais e salinas de Tavira. Esquiva e mimética entre a vegetação, muitas vezes só damos conta dela quando surpreendida levanta voo em rápido zigue-zague para nosso espanto. [Curiosamente, os velejadores da classe ‘Snipe’ adoram o nosso campo de regatas, pelo que o escolhem frequentemente para palco do seu campeonato nacional! (Snipe = Narceja)].

Pachorrento, distante e vigilante, é o Ostraceiro. Inconfundível no preto (não puro) da sua cabeça peito e dorso, sobre o restante em branco. Pata e bico forte e comprido laranja avermelhados e olho de íris vermelha. Disponível para olhos curiosos enquanto se banqueteia com as ostras das 4 Águas em invernos mais ou menos soalheiros.

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Combatente; Philomachus pugnax. (25-32cm./49-60cm.)

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Narceja-comum; Gallinago gallinago. (23-28cm./39-45cm.)

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Ostraceiro; Haematopus ostralegus. (39-44cm./72-83cm.)

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Fuselo; Limosa lapponica. (33-41cm./62.72cm.) Plumagem de Inverno

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Maçarico-de-bico-direito; Limosa limosa. (37-42cm./63-74cm.) Plumagem
de Verão.

Em muito maior quantidade que o Fuselo, o Maçarico-de-bico-direito deixa-se ver em grupos mais ou menos numerosos. São semelhantes, mas uma observação atenta descortinará elementos identificativos como por exemplo uma ligeira curvatura para cima no bico do Fuselo, ou o padrão exibido pelas penas quando em voo.

Querendo ou não saber os nomes que lhes atribuíram e pelos quais são conhecidos é sempre bom lembrar que eles próprios não o sabem nem farão ideia que alguém os batizou… Tampouco é preciso saber o nome deles ou a sua autorização expressa para nos deleitarmos com a sua (nossa) observação. Mas é bom saber que eles estão ali, disponíveis para terapias acessíveis e graciosas… por ora!

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