Dos Pinheiros

Das várias espécies de Pinus, pelas nossas bandas só aparecem três com frequência: Pinheiro-bravo (Pinus pinaster Aiton), Pinheiro-manso (Pinus pinea L.) e Pinheiro de Alepo (Pinus halepensis Miller). Às vezes lá aparece aqui e ali um Pinheiro das Canárias (Pinus canariensis Sweet & Sprengel), mas a processionária faz-lhe a vida muito negra.

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Povoamento de Pinus pinea. Parque de lazer - Perímetro Florestal da Conceição de 
Tavira

Existe um livro de fácil acesso (http://www.icnf.pt/portal/icnf/noticias/gloablnews/spp-arbor-indig-pt-contin) que identifica as espécies arbóreas indígenas em Portugal Continental. Quem tiver curiosidade verificará que a área de distribuição natural do Pinheiro-bravo não chega ao litoral do nosso concelho. Fica-se aí por Santa Catarina da Fonte do Bispo onde ainda chove qualquer coisa…Quando chegamos à zona do Cerro do Major o mais que víamos (ardeu quase tudo há poucos anos) era Pinheiro de Alepo, uma espécie originária daquela zona do médio oriente onde irmãos se matam numa guerra civil feita de fundamentalismos, ditadura, repressão, sangue, morte e, claro está, muitos interesses. Quem olha para este pinheiro nem percebe que foi ‘baptizado’ numa terra de ferro e fogo. Também gosta dos calcários, e por isso o vemos frequentemente pelas bandas do barrocal onde vive em paz e harmonia com alfarrobeiras e outras.

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Pinus halepensis. Estrada Tavira - Cachopo

De todos, este é o que tem a menor pinha. Menor que um punho de uma criança. Do tamanho ideal para pintar de dourado ou prateado ( eu prefiro esta ) no Natal e usar nas decorações da quadra.

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Pinus halepensis. Pinha e folhas. Valongo, Tavira.

As outras pinhas são bem maiores: a do pinheiro-bravo chega ao tamanho da mão de um homem. Vale dinheiro em sacos para uso em lareiras, e quem quiser preparar brasas para uma churrascada tem nelas um aliado infalível e aromatizante.

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Pinus pinaster. Eiras Altas, Tavira.

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Pinus pinaster. Pinha e folhas. Barril, Tavira (!!!)

Na copa redonda, feminina, protectora e fofa do pinheiro-manso crescem  as pinhas mais apreciadas: as do pinhão. Fantástico de propriedades organolépticas e outras.

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Pinus pinea. Perímetro Florestal da Conceição de Tavira.

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Pinus pinea. Pinha e folhas. Barril, Tavira.

Para além das pinhas também as folhas destas quatro pináceas diferem entre si: mais robustas e longas, as do bravo, ligeiramente menores e mais finas as do manso, e pequeninas as do de Alepo, agrupam-se estas em grupos de 2 (agulhas)…

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Da esquerda para a direita, pinha e feixe de folhas: Pinus pinea; Pinus pinaster; 
Pinus canariensis; Pinus halepensis.

…facilmente distinguíveis das do pinheiro das Canárias que, ainda mais finas que as do manso, se agrupam em grupos de 3 agulhas.

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Pinus canariensis. Valongo, Tavira.

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Pinus canariensis. Pinha e folhas. Valongo, Tavira.

Durante anos plantaram-se nos solos mais pobres da serra do nordeste algarvio,  milhões de pinheiros-mansos, em lugares onde já não iam homens nem mulheres, onde só a amiga esteva prosperava. Menos de vinte anos passados, há hoje um potencial produtivo instalado francamente assinalável para além de um forte contributo para a amenização do clima, da regularização do ciclo hídrico e do combate à erosão.

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Perímetro Florestal da Conceição de Tavira

A razão pela qual se optou na altura pelo pinheiro-manso está bem à vista: a sua rusticidade faz dele uma espécie ‘pioneira’, capaz de sobreviver em zonas de muito baixa precipitação e em solos paupérrimos.

O aumento da superfície florestal no concelho de Tavira foi pouco acentuado enquanto concelhos como Alcoutim e Castro Marim souberam aproveitar uma oportunidade de melhoria do ambiente e do seu potencial. Os fluxos de energia foram optimizados e a taxa de fotossíntese (= produtividade primária), foi multiplicada por um número muuuiito grande. O aproveitamento da energia do Sol, nosso grande e às vezes único recurso, foi feito inteligentemente, embora alguns não poucos erros tenham sido cometidos. Apesar de nem sempre a escolha das espécies ter sido a mais adequada a cada local, o caminho para a diversidade ficou aberto.

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Vale da Cerva, Tavira.

Em Tavira não! A ausência de cadastro geométrico, e a estrutura da propriedade impossibilitaram os investimentos amigos do ambiente e do homem. É incrível a dispersão dos blocos, a dimensão de cada um e a distância entre eles… contado nem se acredita. Ainda por cima sem o cadastro… que agora parece querer chegar.

Um país que no século XXI não tem a propriedade agrícola e florestal cadastrada compromete claramente o ordenamento do seu espaço agro-florestal. Esperemos novos ventos, que nos façam olhar para as bandas do javali, … até porque hoje há conquilha, … amanhã não sabemos.

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